(editorial do Jornal do Commercio – 06/07/18)
Na história da saúde em todo o mundo consta que ao lado das melhorias sanitárias – como o acesso a água tratada, por exemplo, nada trouxe mais avanços para a saúde das pessoas do que as vacinas. Diz-se até que nos últimos dois séculos as vacinas são responsáveis por um aumento de 30 anos em nossa expectativa de vida. Significa dizer que avançamos dos 40 anos do tempo da revolução pernambucana de 1817 para os 76 anos dos dias correntes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Essa informação poderia ser gravada nas capas de todos os livros escolares de nosso País, da Matemática à Biologia, e não haveria exagero nisso, tamanha é a importância da matéria, sobretudo quando se trata da poliomielite, uma doença que causou pânico no mundo até a década de 1950, parecia erradicada no Brasil desde 1989 mas aciona de novo o sinal de alerta porque 312 municípios – dos quais 5 pernambucanos – vacinaram menos de 50% das crianças no ano passado.
Desta forma, quando consideramos um mapa brasileiro de risco da pólio Pernambuco marca em vermelho – por uma questão de cautela diante de um mal muito grave – as cidades de Jaboatão, Cortês, Palmares, Frei Miguelinho e Correntes porque nesses municípios todas as crianças com até 5 anos deveriam estar vacinadas e menos da metade estão. Assim cabe aos pais dessas crianças e às autoridades municipais de saúde ser os primeiros a atentar para o risco e se ainda não foram suficientemente advertidos devem prestar atenção para o que diz o presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco, médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima: “É com tristeza que a gente vê a baixa cobertura. Esse retrocesso que observamos hoje leva uma preocupação grande. As vacinas são vítima do seu próprio sucesso”.
O chamamento à responsabilidade vale para todo o Estado – inclusive o Sertão, que não está anotado no mapa de risco – porque o sucesso a que se refere o pediatra é o fato de as pessoas não conhecerem nos últimos 30 anos ninguém que tenha sido vítima do vírus que pode deixar como consequência a paralisia infantil. E aí é que está o ponto central do problema com a queda no índice de vacinação: a poliomielite não existe mais como no passado, graças à imunização, às injeções e gotinhas que impedem o ataque do vírus. Mas em 2017 o índice de vacinação em Pernambuco foi de 82,79% quando o risco de reintrodução do vírus existe para todos os municípios com coberturas abaixo de 95%. Vale lembrar a quem se incluir entre os 18% omissos que os responsáveis podem atualizar a caderneta dos próprios filhos no próximo mês, quando haverá mais uma Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite. Se ainda assim for mantida a configuração no mapa na forma como está hoje, será preciso ir além da mera informação, fazendo-se um chamamento geral, inclusive alertando para a responsabilidade de dirigentes de escolas e professores.